Amamentação – o que fiquei a saber mais com…
Antes de mais gostava de agradecer a todas as pessoas que responderam ao meu formulário sobre a amamentação! Foi muito bom sentir toda esta participação sobre um tema que acredito que vos seja querido e importante.
É também muito importante para mim e, claro que não seria apenas para saciar a minha curiosidade inata! Sim, é verdade, sou um curioso, mas não é algo só porque sim. Com uma melhor noção (pelo menos das 398 mulheres que responderam à data em que fiz este texto) do que se passa e assim que conseguirei (espero eu) ajudar mais futuras mamãs e papás!
Mas, desenganem-se se pensam que isto é só para mim, ou só para vos mostrar a realidade de tantas outras mulheres. Quero, com estas respostas, poder mostrar/provar que efetivamente muito há ainda a fazer nesta área, tanto no que diz respeito aos profissionais de saúde, como às entidades empregadoras e até mesmo a familiares e amigos!
Posto isto, vamos lá ver com o que me deparei!
E, se estamos sempre a ouvir que Portugal tem falta de natalidade, ao olhar para o gráfico seguinte, ninguém diria isso vendo a maior fatia “do queijo”, entre 2010 e 2018!!! Que bom ?
Realmente, quando fiz a próxima pergunta, esqueci-me de colocar a hipótese “com mais um a caminho”, eheheh!
Fiquei muito contente pelo número de grávidas que frequentaram o curso de preparação para o parto, mas talvez o mais correto será dizer preparação para a parentalidade, porque na verdade não é objetivo do curso ensinar a mulher a parir, uma vez que esta maravilhosa competência nasce com a mulher.
No entanto o parto e todo o processo posterior ao parto são momentos muito desafiadores, sobretudo para os pais de primeira viagem, e poderão causar momentos de grande ansiedade senão tiverem alguns conhecimentos. Como tal, a frequência do curso de preparação para a parentalidade é de facto muito importante e é hoje um direito legalmente estabelecido através da Lei nº 142/99 de 31 de agosto.
Os objetivos dos cursos de preparação para o parto são:
- Dotar a futura mãe e futuro pai de competências;
- Adquirir conhecimentos para a nova fase das suas vidas – a chegada de um bebé;
- Diminuir os medos e ansiedades que possam surgir neste período;
- Melhor gestão das preocupações;
- Maior satisfação com a experiência do Parto;
- Maior número de partos normais;
- Correta utilização dos serviços de Urgência Obstétrica e Ginecológica;
- Melhoria da comunicação da grávida/casal com os profissionais de saúde;
- Dimuição da ansiedade nos cuidados ao recém-nascido;
- Integração do homem no processo fisiológico do trabalho de parto e parto;
- Redução de partos instrumentalizados e cesarianas;
- Redução do recurso à episiotomia.
E será que a resposta “não” à pergunta “O tema da amamentação foi abordado?” está relacionado com o nº de pessoas que não frequentou o curso, ou será que não foi debatido de todo? Esta deixou-me intrigado!
Mas a verdade é que há cursos de preparação para o parto/parentalidade em todo o lado e, realizados quase por qualquer pessoa, com o conteúdo programático completamente desajustado à realidade.
Esta é uma das dificuldades que, por vezes, enfrentamos quando acompanhamos um casal em trabalho de parto na maternidade, perceber que frequentaram um curso com conteúdos, estratégias e objetivos desatualizados.
A escolha do local e quem ministra o curso é algo que deve ser muito cuidada, assim deixo alguns critérios que são importantes saber quando procura um curso:
Como escolher um Curso Pré-Parto?
- Quem ministra o curso;
- Programa do curso;
- Com quantas semanas inicia o curso;
- Duração do curso;
- Compatibilidade do curso com o horário laboral;
- Acessibilidade ao local do curso (trânsito, estacionamento etc.);
- Instalações onde funciona o curso (ver o local);
- Relação preço qualidade.
- Apoio durante a gravidez e pós-parto
- Se é para o casal ou só para a grávida (deve ser para o casal)
Uiiiii, agora é que são elas! Eu a pensar que podia restringir as respostas no que diz respeito ao tempo que amamentaram, claramente que não me enganei, mas fui enganado! (Ahah)
E, mais uma vez fiquei com uma dúvida. Será que quem afirmou não ter nenhum tipo de apoio por parte de profissionais de saúde, durante a amamentação, foram também as mamãs que não tiveram nenhuma preparação para o parto? Não, pois não? Aqui parece-me que foram muitas as mamãs sem ajuda… ☹ Porque é que terá acontecido? (Também podia/devia ter feito esta pergunta?)
No entanto, e apesar de já ter visto tantas respostas “menos boas” – não inesperadas – posso dizer que fiquei muito feliz ao perceber que felizmente foram muitas as mamãs a quem correu muito bem a amamentação pela primeira vez ?. Fico feliz por saber que nem tudo corre mal! Qual terá sido o vosso segredo?
E, para refletirmos um pouco sobre algumas situações, deixo aqui algumas descrições feitas pelas mães que participaram neste formulário. Poderá ajudar-nos a nós, profissionais de saúde, a refletirmos todos mais um bocadinho e melhorarmos ainda mais os cuidados.
Em resposta à pergunta “O que podia ter sido diferente?”
- Podiam não ter dado LA no puerpério ao bebé e quando ele sempre teve glicémias acima de 70. Podiam não lhe ter feito uma lavagem gástrica sem o meu consentimento. Podiam ter logo deixado que eu lhe desse o LA em vez de o levarem para o picarem e alimentarem longe de mim. Bebé de termo, sem icterícia. Podiam não ter dito que o bebé nunca ia mamar bem pelo retrognatismo. Podiam não ter mandado comprar bicos de silicone que não tinham indicação nenhuma.
- Foi uma pega muito difícil… ele não sabia mamar no início. Levou tempo a aprender e eu apesar de ter tirado leite com a bomba para estimular, devia ter tirado mais e estimulado mais para aumentar a produção. Tive de recorrer a suplementação e mesmo quando ele aprendeu a mamar bem, eu não tinha leite suficiente para ser em exclusivo.
- Maior apoio mais informação mais paciência com as mães.
- Estado de espírito diferente.
- Mais apoio por parte dos profissionais de saúde no centro de saúde. A solução encontrada após as queixas que a menina não estava a mamar bem e a ganhar peso foi dar leite em pó.
- Ter sido detetado a tempo a existência de freio curto.
- Nada! Correu lindamente, fui bem informada no curso e o meu bebé pegou logo bem na maminha desde o nascimento até agora.
- Terem-me mostrado como ajudar o bebé na pega.
- Espaçado menos as mamadas (a bebé dormia muito) e mais livre demanda.
- Ter tido mais respostas e acompanhamento
- Ter tido apoio a corrigir a pega poucas horas depois de ele nascer já tinha gretas e a solução que me apresentaram foram um belo par de mamilos de silicone. Um bebé que nasceu com baixo peso, demorou imenso tempo a recuperar o peso de nascimento e só começou a engordar bem quando consegui retirar os mamilos de silicone.
- Mais apoio dos médicos. Pouca informação. Informação dada pelos médicos errada.
- Mais apoio nas primeiras horas pós-parto.
- Melhor ajuda da parte das enfermeiras da maternidade.
- A maternidade não ter uns estudos em dar suplementos (não ouvi e não dei).
- Os mamilos não gretarem.
- No início, no hospital fui incentivada a dar LA pois ” não tinha colostro”.
- Começou mal com muitas dores, mas com muita determinação e ajuda consegui superar e amamentei o primeiro filho durante dois anos. Estou a amamentar o segundo quase há um ano e estou grávida do terceiro. Amamento grávida e pretendo continuar quando o novo bebé nascer e dar amamentar os dois em tandem.
- A ajuda a fazer a pega correta.
- Na preparação para o parto deviam ter incidido mais no tema da descida do leite.
- Menos palpites alheios.
- Se houvesse apoio sério, contributivo, construtivo e fundamentado em evidências teria tudo sido muito melhor, para mim e para o bebé. Felizmente que, com o aumento do número de filhos a amamentação também melhorou e aumentou substancialmente.
- A minha perceção de que não era assim tão fácil, e o facto de ter dores não ajudou a estarmos confortáveis.
- A enfermeira ter sido mais competente.
- O suporte que me foi dado na segunda noite na maternidade. O meu filho não fazia a pega corretamente e a solução foi dar um biberão de suplemento!! Foi a única vez que bebeu LA. Ainda hoje, com 23 meses, mama.
- Não ter sido recomendado LA e sim insistir na amamentação… pois recusou a mama.
- Ser informada que os primeiros dias podem ser dolorosos.
- A pega do bebe no peito.
- Não stressar por a menina não pegar no peito.
- Podia ter tido mais ajuda das enfermeiras no hospital.
- O apoio do enfermeiro no recobro.
- Ter tido mais acompanhamento profissional de saúde. Senti muita dificuldade no início.
- Menos opiniões de outros e mais procura de informação da minha parte. Foi uma cesariana de urgência e nem no HGO tive muita ajuda…
- Maior apoio.
- Acompanhamento em vez de só verem LA como solução, tanto que dos meus outros dois foi bem diferente o do meio amamenta a 4 anos e meio junto com a mais nova com 11 meses.
- Ter tido mais apoio, mais orientação.
- Nada. O problema não foi a primeira vez.
- A por em prática a teoria não é fácil.
- O problema maior foi o meu bebé ter o freio da língua curto e eu não ter o bico das mamas formado, fiz de tudo para que fosse perfeito e para mim foi, nunca tive fissuras nos bicos, o meu bebé nunca mamou sangue, nunca fiquei com o peito duro. Ele mamava em 5 minutos, nunca ficava prostrado, nunca adormecia e bolsava imenso, não era refluxo, era porque entrava muito ar em cada mamada e por vezes, entre uma mamada e outra, se passassem 3 horas, ele ainda bolsava e arrotava. Mas amei, é lindo e super prático.
- Ter apoio dos profissionais. Escusava de ter profissionais a dizer que o meu bebé não sabia mamar.
Relativamente às áreas em que sentiram mais dificuldades, é algo bastante complexo. Mas, sinceramente, não esperava que fosse de outra forma! Não há duas mulheres iguais, nem dois bebés iguais! Porque é que a amamentação haveria de ser igual para todas?
Posto isto, percebi que ainda que existam níveis de dificuldade superior ou inferior em todas as áreas, destacam-se, claramente, a Gestão de Opiniões e a Gestão de Emoções, como os aspetos em que terão sentido maior dificuldade, seguidos da Subida/descida do leite, da extração, à pega e ao tempo das mamadas!
Em resposta à pergunta “O que poderia ajudar com o que correu menos bem?”
- Nada. Os mamilos fissurados fazem parte, foram tratados devidamente.
- Ter mais confiança no que foi aprendido e aconselhado pelos profissionais e não ligar a opiniões de outras pessoas.
- Mais apoio no puerpério, mais paciência connosco, principalmente mães de primeira viagem.
- Ter tido um pós-parto menos doloroso física e psicologicamente.
- Não darem a resposta que o meu leite não era suficiente e que tinha que dar fórmula (no próprio centro de saúde).
- Melhor informação na maternidade e mais formação dos profissionais que foram aparecendo ao longo dos primeiros meses, todos com opiniões contraditórias.
- Profissionais de saúde interessados e informados.
- Apoio dos médicos.
- Os profissionais de saúde não opinarem de modo desigual.
- Opiniões informadas.
- O que poderia ajudar era as mulheres terem acompanhamento profissional de enfermeiras especializadas para o assunto ou de CAMS desde o parto. É um momento difícil, é preciso muita determinação e ajuda e a maior parte das mulheres desistem, o que é uma pena. O leite de vaca artificial não devia ser encarado como uma opção comum aceitável e sim como uma exceção.
- Visão mais realista das dificuldades da amamentação.
- Mais informação das pessoas que me rodeavam, e mais apoio.
- Ter algum apoio.
- Mais suporte, menos opiniões geradoras de inseguranças, maior conhecimento baseado nas evidências científicas e menos stress adicional.
- Mais apoio ao início.
- Não ter dado ouvidos a certas opiniões…
- A enfermeira do primeiro… pois do primeiro só amamentei 1 mês… na segunda já foram quase dois anos… e agora do terceiro já vamos no sexto mês.
- Informação sobre os primeiros dias.
- Ter preparado mais sobre a maneira que o bebé deveria pegar o peito.
- Não ter sempre tanta gente a observar como amamentava a menina.
- Que as pessoas ao redor não achassem que tudo o que de “mau” acontecia (bebé dormir mal, chorar, acordar de noite, mamar mt tempo, etc….) fosse porque o meu leite “se calhar era fraco…”!!!!! Isso não existe!!!! Tem que haver mais informação e apoio às mães!!!!
- Apoio domiciliário de conselheiras de amamentação.
- Acompanhamento.
- O que correu menos bem foi o facto de não ter tido muito apoio para saber como poder aliviar o desconforto da subida do leite.
- Mais apoio por parte dos profissionais de saúde.
- Os médicos terem feito menos pressão no LA e ter mais informação.
- Sou EESMO, pelo que a informação e desejo de amamentar não foram um problema. Senti, no entanto, como todas as outras mães, várias dúvidas e receios. As fissuras nos mamilos e as alterações hormonais e privação do sono foram os fatores mais difíceis de ultrapassar. O apoio de outros profissionais e sobretudo partilha em grupos de outras mães que conhecia e me eram próximas, foram decisivas para o sucesso da amamentação.
- Ser mais descontraída, nesta parte.
- Ajuda na pega e tranquilizar-me em vez de só me serem sugerido suplementos. Mesmo assim amamentei até o meu bebé me dizer “não quero mais”.
- Experiência, mas isso ganha-se com o tempo, para nós é tudo novidade agora do meu segundo filho certamente será mais fácil.
- O único problema todo na amamentação do meu bebé, foi mesmo e só o freio da língua ser curto, mas foi “cortado” e a partir daí, foi melhor.
- Mais atenção individualizada, paciência e ajuda construtiva.
O leite materno é considerado o alimento mais completo para o bebé, conferindo um adequado aporte ao sistema imunológico, prevenindo muitas patologias. As vantagens são muitas, desde económicas para a mãe e pai, família e até para o meio ambiente, (para aqueles que são mais ecológicos e não ficarem esquecidos).
Segundo a OMS o aleitamento materno é recomendado que se inicie na primeira hora após o parto e se prologue de forma exclusiva até aos 6 meses.
Este formulário não teve, como é óbvio, o objetivo de fazer qualquer estudo científico, apenas uma curiosidade, que no final de contas serve para refletir naquilo que considero que (no fundo) até todos sabemos: ainda há muito para fazer.
Apesar de se verificar uma ótima adesão à amamentação, a taxa de aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses ainda é muito baixa no nosso país, o que leva a concluir que ainda há um longo caminho a percorrer no sentido de apoiar as mães nesta prática. Acredito que vai melhorar, mas como em tudo, vai levar o seu tempo
Muita paciência é o que vos desejo!