Vem a caminho mais um filho! Haverá espaço (Amor) para todos?
Neste Dia do Amigo nada melhor do que “homenagear” uma das amizades (é muito mais que isso, mas não faz mal) mais importantes da nossa vida, a amizade entre irmãos. Haverá espaço (Amor) para todos?
Talvez seja esta, uma das primeiras questões que surge às mamãs, aquando do turbilhão de emoções, com a notícia de que vem mais um bebé a caminho. Quando se pensa numa segunda gravidez é quase impossível contornar questões como: “Será que irei conseguir amar o novo bebé da mesma forma que o primeiro?”, “Como conseguirei não falhar como mãe ao meu filho mais velho, quando um recém-nascido requer tanta atenção?”. As respostas a estas questões vão surgindo de forma natural ainda no decorrer da gravidez e/ou com o nascimento do bebé.
Tal como anteriormente, a mamã começa a construir o amor pelo novo bebé ainda durante a gestação. Com o nascimento, este processo continuará de forma natural e muitas mamãs, acabam por se surpreender bastante, com a capacidade que têm para amar, que é muitas das vezes quase indiscritível.
Quanto ao sentimento de culpa, que pode surgir através de pensamentos mais negativos, por não se conseguir ser mãe por inteiro para os filhos mais velhinhos, o mesmo poderá ser atenuado se conseguir descomplicar e relativizar.
Com a chegada de mais um filho, a mamã terá de disponibilizar e gerir a sua atenção por mais um filho e, se por um lado os filhos mais velhos poderão experienciar sentimentos de angústia e insegurança decorrentes da nova situação familiar, por outro lado, irão certamente desenvolver capacidades de gestão de emoções, de partilha, autonomia e autocontrolo que os filhos únicos não terão possibilidade de desenvolver, pelo menos de forma tão exigente. E assim, e com o passar do tempo, esta questão acaba por ser desmistificada e toda a família chegará à conclusão que partilhar o amor dos pais com outros irmãos não será nada dramático e tornar-se-á a normalidade de todos.
Outra questão que muitas vezes surge aos papás de segundas e terceiras viagens, prende-se com as possíveis dificuldades futuras para gerir o tempo e as rotinas com mais uma criança. Esta questão é muito pertinente e acredito que deixe as famílias bastante apreensivas, mas aqui, mais uma vez, a receita será descomplicar. Consoante as idades das crianças, o que acaba por acontecer é que as rotinas irão acabar, mais tarde ou mais cedo, por se fundir. Ou seja, chegará à altura em que as crianças tomarão banho ao mesmo tempo, em que poderão comer todos os mesmos alimentos e passar a existir uma só refeição para todos em casa, o que será bastante importante na gestão do tempo. E até a rotina do dormir, rapidamente passa a ser comum a todos. Claro que dias não são dias e haverá, com certeza, alturas em que um dos filhotes necessitará de mais atenção e estas rotinas poderão sofrer algumas alterações. O que muitos papás relatam é que, muito mais depressa do que possamos pensar, chegará a altura em que as crianças passarão bastante tempo a brincar umas com as outras, o que irá libertar os pais e este facto acaba por ser uma vantagem em relação a quem tem apenas um filho.
Hora de ir para a maternidade!
Entretanto chega a hora da mamã ir para a maternidade, e esta é também uma situação que deixa os papás bastante angustiados, principalmente as mamãs que deixam o seu filhote mais velho para se ausentarem. Dependendo dos casos, de três dias a uma semana. Pode parecer repetitivo, mas a palavra descomplicar terá de entrar em cena novamente.
O parto faz parte do processo e terá mesmo de acontecer, não há como contornar, e posto isto é tentar lidar com estes dias da melhor forma possível. Seja qual for a idade do filhote mais velho, o melhor será sempre manter as suas rotinas normais durante a ausência da mãe, ir à escola, frequentar as atividades, ou seja, quanto menos alterações ocorrerem no dia-a-dia da criança menor será, certamente, o impacto da ausência da mãe. É quase certo que a criança fará perguntas, e a melhor forma de lidar com elas é responder, adequando a linguagem à idade da, mas sempre com a maior das sinceridades. O pai, ou outros cuidadores que ficarão com a criança, terão aqui um papel fundamental nesta fase, e convém que se sintam à vontade com todas as rotinas das crianças e que as respeitem. É, por isso, conveniente que haja um planeamento destes dias antes da mãe ir para a maternidade.
Visitas do primeiro filho ao hospital
As visitas do filho mais velho à maternidade, que muitas vezes é ainda bebé, está também envolta de dúvidas. Questionamo-nos se a criança há-de ir ou não, que impacto é que terá… E aqui, a idade da criança será um factor importantíssimo para este tipo de decisões. Se se tratar de uma criança pequena, por exemplo, dois ou três anos, talvez o melhor será não visitar a mãe e o recém-nascido na maternidade, isto para se evitar que a criança experiencie sentimentos, por vezes de extrema angústia, aquando da separação da mãe no regresso a casa sem ela. As crianças mais crescidas já poderão viver este momento com maior maturidade e possivelmente a separação da mãe, que fica na maternidade com o recém-nascido, pois poderá provocar menos angústia ou uma angústia suportável, mas irá depender da estrutura emocional da criança.Caberá à família decidir o que será melhor.
No regresso da mãe a casa, será muito importante dar uma “atenção extra” ao filhote mais velho, tanto por parte da mãe, como por parte dos restantes familiares e amigos que vão visitar o recém-nascido, e isto é algo que os papás deverão acautelar com a família e amigos.
O irmão mais velho e os “ciúmes”
Gostaria também, de ajudar a desmistificar a questão dos ciúmes, esse bicho papão que parece que muitos têm dificuldade em assumir. Frequentemente, se estivermos mais atentos, ouvimos frases do género: “o meu mais velho está óptimo, adora o irmão, não tem ciúmes nenhuns!”, e o que se observa muitas vezes é o irmão mais velho com comportamentos claros de chamadas de atenção, e isto não é nada fora do normal se acontecer, é perfeitamente comum existirem ciúmes e não há nada de errado nisso. É uma fase em que os pais terão de estar atentos ao comportamento dos filhos para, se necessário, alterarem ou ajustarem a atenção a dar.
Algumas vezes, a mãe poderá ter de proporcionar alguns “momentos de filho único” ao filho mais velho, mesmo não sendo fácil numa altura em que o bebé mais novo é tão solicito, mas por exemplo, poderá sentar-se um bocadinho para brincar, fazerem um desenho, que muitas vezes são momentos que, por razões óbvias, deixa de fazer durante algum tempo com o filho mais velho e que nem sempre poderá ter um impacto positivo na criança.
Não será certamente uma fase fácil, para nenhum dos envolvidos, mas este facto também não será novidade para quem experiencia a maternidade pela segunda ou terceira vez e, como em todas as situações de mudança, pode gerar preocupação e alguns medos, mas é certamente recompensadora e de grandes ganhos emocionais e afetivos para todos.
Ana Sofia Andrade
Psicóloga na área educacional e clínica