O início do Parto vertical (comigo, pelo menos)
Há muito tempo que queria implementar algo novo, por isso quando a minha chefia desafiou a equipa a implementar algo inovador, foi a minha deixa para aproveitar e implementar o parto vertical, ou parto de cócoras (uma das posições facilitadoras do processo de trabalho de parto).
Fisiologicamente, a posição deitada (litotomia) não beneficia o trabalho de parto, pois os diâmetros da bacia ficam mais fechados (ou melhor, inalteráveis) dificultando toda a fisiologia do trabalho de parto e parto. (Então porque é que não se ajuda a mãe e o bebé desta forma? Devem estar a perguntar-se… porque para alguns profissionais de saúde é algo que sentem que dificulta o seu trabalho e “retira protagonismo”, de algo que é próprio da Mulher… porque a mulher está habilitada para dar à luz!)
Posto isto e, tendo em conta o desafio lançado, fiz tudo o que era possível para apresentar “a minha inovação”, o Banco de Parto, pensado e desenhado por mim, (claro que baseado noutros modelos, mas com algumas modificações que senti serem mais facilitadoras) e construído por um carpinteiro. (Para quem nunca ouviu falar, é mesmo isto que escrevi, não foi engano).
Este banco é, nada mais, nada menos, que um facilitador do Parto Vertical, pois permite que os diâmetros da bacia fiquem alterados cerca de mais 30%; permite uma postura vertical, facilitadora para o período expulsivo! Além disso, a grávida pode ter o companheiro, a doula, ou a pessoa que entender (e que terá no plano de parto) a suportar-lhe as costas e, podendo assim, fazer-lhe uma massagem, apoiando-se na maca ou cama, alternando com a posição sentada e de pé, etc.
Esta foi uma ideia que me surgiu, aquando o meu percurso na emergência médica VMER – Viatura Médica de Emergência e Reanimação (conto-vos detalhes um dia destes), – algo que me levou a perceber que, em situações de partos domiciliares, nenhuma mulher tinha tido o seu bebé, deitada. E até mesmo no hospital, quando comecei a perceber que havia senhoras que não toleravam estar de cócoras muito tempo, tendo que ir intercalando com períodos de descanso, ficar de pé, andar, voltar à posição… (Isto porque, ou tinham mais peso, ou estavam mais inchadas)
O facto de termos toda a tecnologia que permite acompanhar e monitorizar o trabalho de parto, mesmo de cócoras e, sabendo que há registos de utilização de cadeiras e bancos desde há muito anos, tanto noutros países como no nosso, foi o suficiente para implementar o Parto Vertical, com ou sem recurso ao Banco de Parto.
Passaram alguns anos e não podia estar mais feliz por sentir que no Hospital Garcia de Orta, fomos desafiados a melhorar a vida de quem precisa da nossa ajuda e conseguimos! Passaram alguns anos e felizmente, (mesmo com um início conturbado, normal à implementação de qualquer novidade) já foram muitas as grávidas que não só quiseram experimentar como começaram a pedir para terem o seu bebé com o Banco de Parto, melhorando significativamente a sua tolerância à dor e tornando um momento que deve ser inesquecível, num momento feliz e memorável.
Bruno Rito