Há quem faça uma pré-inscrição, ainda no decorrer da gravidez, para assegurar vaga no berçário, há quem saiba até antes do bebé nascer qual o colégio que vai integrar, ou porque os próprios pais frequentaram ou porque familiares ou amigos conhecem e deram boas referências. Há quem consiga adiar por alguns meses, ou até anos essa entrada na escolinha e também há quem se sinta bastante perdido, cheio de dúvidas, quando chega a hora de escolher o berçário que vai acolher o seu bebé.
No meu caso, confesso, só me “caiu a ficha” de que teria de escolher uma escolinha para a minha filha a cerca de dois meses da sua entrada e aí senti-me um pouco assoberbada com a quantidade de questões que entretanto foram surgindo, com imensas dúvidas portanto.
Instituição de Solidariedade Social (IPSS) ou Colégio Privado?? As circunstâncias encarregaram-se de responder prontamente a esta primeira questão, visto que, no mês de março, na minha zona de residência, não tendo eu tratado da inscrição da bebé ainda durante a gravidez, foi impossível que ela entrasse em qualquer uma das IPSS. Normalmente, estas instituições têm períodos específicos no ano para efetuarmos a inscrição, se bem me recordo, mês de maio. Escolha feita (forçada): colégio privado.
Entretanto novas questões se foram levantando. Procurar colégio perto de casa, perto do local de trabalho dos pais ou perto da casa dos avós? Isto porque, no nosso caso, já sabíamos que iríamos precisar muito da ajuda dos avós para ir buscar a bebé. A zona geográfica também ficou escolhida, perto de casa dos avós e perto do meu local de trabalho.
O passo seguinte foi fazer uma busca na internet, de colégios com berçário, na zona escolhida, para se visitarem cerca de três ou quatro.
Outra questão que nos surgiu, entretanto foi o modelo pedagógico implementado no colégio. Pessoalmente, achava muito interessante que a minha filha integrasse uma escolinha com o modelo do Movimento da Escola Moderna (MEM) ou outro semelhante e fiz a busca tendo também este fator em consideração, mas optei por não colocar de parte os colégios com modelos educativos tradicionais.
Iniciei então as visitas aos colégios, preferindo fazê-las sem marcação e não é nenhum drama para estes sítios, porque estão habituadíssimos e abertos a que seja assim, desde que a nossa visita respeite as suas rotinas. Em todos os colégios que visitámos foi sempre realizada uma pequena reunião com os pais onde nos é explicada a dinâmica e onde há espaço para colocarmos as nossas questões.
Depois da escolha feita, chegou o “grande dia”, o primeiro dia de berçário da sua vida.
Quando o bebé entra para o berçário, passa por um período de adaptação que pode durar uma semana ou mais, ou até menos. Vai depender das características do bebé e da forma como vai reagindo nesses dias.
Desengane-se quem achar que esta adaptação é exclusiva do bebé, nós pais também precisamos desse tempo para nos adaptarmos a esta nova realidade, de pais que irão deixar de estar 24h por dia com o bebé. Só de pensar, pode parecer algo dramático e angustiante, dependendo de cada pessoa.
No meu caso, o primeiro dia de berçário da minha filha correu às mil maravilhas, não senti angústia na separação, a bebé também ficou bem-disposta e passada uma hora e meia, lá estava eu a tocar à campainha do colégio para a ir buscar, com um sentimento de dever cumprido. Mas este sentimento não durou muito tempo. A verdade é que, criei uma expectativa, errada claro, de que os próximos dias iriam ser igualmente fáceis como o primeiro, mas não foram. Nos dias seguintes, a bebé passou a ficar mais horas até ao dia que passou a ficar o dia completo e aí, a angústia de separação passou a existir, para mim como mãe, porque sinceramente, não notei que a bebé tão pequenina sofresse o que quer que fosse.
O meu sentimento era de ter havido um corte brusco com alguém que era o meu mundo e, como consequência, um sentimento de vazio enorme, e culpa talvez, medo. Não somos todos iguais e acredito que para algumas pessoas este processo seja bem mais tranquilo do que para outras, vai depender bastante se somos pessoas mais racionais ou mais emocionais; das nossas experiências pessoais, mas de qualquer das formas, o que tenho observado é que nesta situação específica, de deixar os filhos pela primeira vez num colégio, por vezes até a pessoa mais racional se deixa inundar pelo lado mais emocional e esta separação pode ser vivida com maior angústia.
Para os pais que não estão a trabalhar fora de casa ou ainda não voltaram ao ativo, é bastante comum que, depois de deixarem o bebé, possam ficar, nos primeiros dias de adaptação, sem vontade de voltar a casa sem o bebé, para além dos sentimentos comuns a quase todos os pais, de uma certa melancolia, alguma apatia, vontade de chorar, ansiedade, falta de vontade para realizar tarefas.
Os pais que já estão a trabalhar, para além dos sentimentos já descritos, poderão notar grandes dificuldades em se concentrarem, o que poderá prejudicar o desempenho, verificando-se mais erros e distrações, o que é natural, visto que o foco do pensamento estará no bem-estar do bebé, e na vivência de alguma angústia e tristeza.
Sem pretensiosismo, e apenas com a intenção de ajudar outros pais, irei fazer algumas sugestões de estratégias a adotar nesta fase, que funcionaram comigo e me ajudaram bastante a passá-la da forma mais saudável possível.
Para os pais que ainda estão em casa:
- Sugiro que não descurem de um planeamento antecipado dos vossos dias, nesta altura, fazendo mesmo, o género de “horário escolar” com os vossos compromissos fixos (hora para refeições, trabalho, tarefas domésticas, etc) e com os adicionais (tomar café com amigos, ir às compras, fazer depilação, exercício físico, fazer um workshop, visita a familiar, p.e). Dou esta sugestão, porque na minha opinião, será muito importante que se mantenham ativos e que não se isolem, não deixem estes primeiros dias sem o vosso bebé ao acaso porque a tendência será sermos inundados por pensamentos mais negativos, tristeza o que consequentemente nos irá trazer falta de energia para fazer o que quer que seja.
Para os pais que deixam os filhotes no berçário e seguem para o seu local de trabalho (para quem, muitas vezes, é difícil manter o pensamento longe do seu bebé)
- Penso que será necessário um esforço adicional para manter o foco nas tarefas profissionais, o que irá ajudar a manter os pensamentos negativos afastados da nossa mente.
- Para quem tenha oportunidade e para quem goste, julgo que a prática de exercício físico será sempre uma excelente opção e poderá funcionar como estratégia, pois o foco estará em nós próprios e, à partida, não estará nas preocupações para com o bebé, assim como regulará a produção de hormonas que são muito favoráveis à saúde mental.
A verdade é que, nos dias em que nos possamos sentir mais em baixo, os pensamentos negativos e/ou preocupações podem tornar-se um pouco mais complicadas de gerir e parecem não nos querer sair da cabeça de forma nenhuma. Neste caso sugiro irmos dando algumas respostas mentais às nossas dúvidas e tentarmos ser um pouco mais racionais naquele momento, por exemplo:
- Pensarmos que, se o bebé não estivesse bem que já nos teriam ligado da escolinha;
- Que os bebés se adaptam facilmente às rotinas e que essas são bastante importantes no desenvolvimento do bebé, p.e.
Também é bastante importante, irmos verbalizando o que andamos a sentir nesta fase: Podemos fazê-lo com o/a companheiro/a, com os nossos pais, amigos ou com o profissional de saúde que nos acompanha, como forma de evitar que aqueles pensamentos e sentimentos de maior tristeza, culpa, medo e até as dúvidas em relação ao bem-estar do bebé, persistam, catastrofizem e nos deixem cada vez mais preocupados e tristes.
Esta fase pode muito bem ser a altura em que, nós pais, podemos voltar a investir um pouco mais em nós como pessoas, mulheres e homens, como profissionais, visto que à partida, teremos maior disponibilidade de tempo em relação aos meses anteriores.
Quando nos dedicamos a algo em prol de nós próprios estaremos a anular a exclusividade do nosso foco para com o bebé, o que poderá ser bastante benéfico na forma como iremos vivenciar a separação diária do bebé e a falta de controle que iremos ter no que respeita à prestação dos seus cuidados, provavelmente irá tornar esta vivência mais tranquila e leve.
Gostaria também de salientar, e agora falo-vos como mãe e como profissional da área da saúde mental, a importância extrema de se procurar ajuda especializada, se notarem que o período de tristeza se prolonga no tempo ou se notarem que a intensidade da tristeza e/ou ansiedade está em níveis bastante elevados.
Não se esqueçam do papel importantíssimo da Educadora de Infância dos vossos filhos, não haverá ninguém melhor que ela para vos clarificar e desmistificar as dúvidas que vos vão surgindo acerca do dia a dia dos vossos filhos.
Desejo a todos os pais que passem por esta fase da melhor forma possível e aproveitando sempre o que de melhor os nossos filhos têm para nos dar.
Ana Sofia Andrade
Psicóloga na área educacional e clínica,