Os primeiros sinais de trabalho de parto, (ou melhor as contrações), deveriam aparecer, apenas, após as 37 semanas de gravidez. No entanto, e muitas vezes associadas à falta de água, infeções, excesso de trabalho, etc, aparecem muito antes… Por esse motivo é importante que a grávida saiba reconhecer o que são contrações, para rapidamente recorrer ao seu enfermeiro obstetra, médico ou ao serviço de urgência obstétrica.
Mas afinal, o que é uma contração?
A maioria das grávidas costuma ter receio de chegar ao final da gravidez e não conseguir perceber o que é uma contração. Mas não se preocupem com isso, pois quando aparecerem vão perceber muito bem o que é, (e vão arrepender-se de alguma vez terem colocado isso em dúvida, vão ver).
Uma contração será algo parecido com uma dor menstrual, pois também é uma contração. Mas, a diferença é que a dor menstrual acontece num útero com cerca de 50 gr e 8 a 10 cm de tamanho e uma contração, acontece num útero dez vezes maior.
E as mulheres que nunca tiveram dores menstruais? Sim, estas também vão sentir o que são contrações.
Se o trabalho de parto acontecer de forma natural, as primeiras contrações terão níveis de dor graduais. Isto é, não serão muito dolorosas no início, mas vão intensificar-se no final. (Um pouco como se de um atleta se tratasse… um atleta de alta competição, que faz os seus treinos de forma progressiva, até ao dia da prova final, em que o esforço físico e o nível de exigência da prova é muito grande).
Se possível, o trabalho de parto, começará de forma natural, devagar, ao seu ritmo, até atingir a sua intensidade máxima e permitir o nascimento do bebé. Ou seja, a barriga da grávida começa por ficar apenas dura – contração – e mais tarde, (por vezes muitas horas ou até dias), além da rigidez, poderá sentir algum desconforto na parte da frente e/ou costas, até serem mais dolorosas. Um processo que requer muita paciência e, sobretudo, saber esperar, seja em casa ou já na maternidade.
Vamos lá perceber então todo o processo…
Normalmente, a contração tem início num dos cantos superiores do útero, designado como zona ou região cornual do útero, espalhando-se de forma gradual ao longo de toda a sua dimensão. E é fantástico perceber que no corpo de qualquer mulher existe um órgão com uma tecnologia tão boa como esta, que permite que, após cada contração o seu tamanho diminua (por ação das fibras musculares) até ao momento em que o bebé é expulso do seu interior.
Durante todo este processo a grávida sente a barriga completamente dura, seguida de dor. Uma das formas que existe para se perceber melhor o que é uma contração, consiste em dividir virtualmente a barriga em quatro quadrantes e, com o dedo indicador, comprimir cada um dos quadrantes ao meio. Quando for uma contração, os 4 quadrantes estão todos duros, ou seja, contraídos.
Relembro mais uma vez, que estas dicas só se aplicam quando a grávida tem 37 semanas ou mais, o bebé está de cabeça para baixo e a bolsa de águas intacta.
Perda do rolhão mucoso
A perda do rolhão mucoso não é considerada nem pode ser um sinal de verdadeiro trabalho de parto. Pode sair umas horas, uns dias ou umas semanas antes do bebé nascer e, devido a esta incerteza, não se considera um sinal de trabalho de parto e, muito menos um motivo de ida à urgência obstétrica.
O que é o rolhão mucoso e para que serve?
Tal como o nome indica é uma rolha feita de material gelatinoso, produzido por glândulas do colo do útero, que se destina a formar uma barreira protetora para o bebé e para as membranas que o envolvem.
Normalmente, está confinado a toda a extensão do colo do útero e ligado a muitos vasos sanguíneos. Sempre que o colo do útero sofre algum movimento mais brusco, como por exemplo uma contração, ou mesmo um toque vaginal, uma pequena porção desse rolhão poderá soltar-se. Momento esse em que um, ou mais vasos podem romper e tingir o rolhão com sangue. Além disso, ao longo do trajeto, (até sair), este irá escurecer e a grávida encontrará uma espécie de “ranhoca” acastanhada, ou raiada de sangue mais claro (sangue vivo).
Nenhuma destas situações é motivo para ir ao serviço de urgência obstétrica! Poderá aguardar, calmamente em casa, até as contrações aparecerem e ficarem ritmadas.
Rotura da bolsa de águas
Tal como a situação do rolhão mucoso, a rotura da bolsa de águas também não é um sinal de trabalho de parto! Mas, se acontecer, será altura de pensar ir até ao hospital/maternidade. Relembro que não é preciso ir a correr, muito menos chamar uma ambulância, via 112, para a transportar para o hospital. Poderá, calmamente, esperar pelo marido ou familiar que a leve até à maternidade.
Função do líquido amniótico:
O líquido amniótico encontra-se dentro da bolsa de águas e tem como função:
- Permitir o crescimento do bebé;
- Formar uma barreira protetora contra infeções;
- Proteger o bebé dos choques mecânicos;
- Ajudar a controlar a temperatura do bebé;
- Permitir movimentos livres do bebé;
- Impedir aderências entre o bebé e as membranas;
- Permitir que o bebé cresça de forma simétrica.
Composição do líquido amniótico:
- Água com minerais em suspensão;
- Urina;
- Lanugo;
- Células epiteliais;
- Vernix;
- Células da pele;
- Ocitocina;
- Proteínas;
- Vitaminas;
- Enzimas;
- pH 7.08-7.13.
É deglutido pelo bebé ao longo da gravidez e, no final, o volume deglutido é de cerca de 400 ml por dia. (Sendo que a água contida no líquido amniótico é renovada a cada 3 horas).
Posto isto e olhando para a composição do líquido amniótico, podemos afirmar que, apesar de dizermos rotura de bolsa de águas, o líquido amniótico não é só água. Reparem que depois de tantas semanas envolvido em líquido amniótico, ao nascer, o bebé não vem enrugado, como quando as nossas mãos estão muito tempo mergulhadas em água.
Quando ocorre a rotura da bolsa amniótica o líquido poderá ser de cor clara, com pequenos grumos brancos misturados, o que normalmente representa uma boa maturidade pulmonar. Ou, poderá ser de cor esverdeada, – algo que só acontece pela mistura das primeiras fezes do bebé, conhecidas como mecónio – significando, assim, que é necessária uma vigilância mais apertada.
Qualquer uma destas situações referidas implica a ida ao serviço de urgência. E, se por acaso se confirmar a rotura da bolsa de águas, terá de ficar internada. Por esse motivo, será melhor levar logo a mala da Mãe e do bebé.
Quando há dúvida que a bolsa de águas rompeu?
Muitas vezes a grávida perde líquido de cor clara/transparente e fica na dúvida se será a bolsa de águas rota, ou urina. Sim, pode ser urina, e é normal que no final da gravidez algumas grávidas se queixem de incontinência urinária. Quando isto acontece aparece a dúvida: “será urina ou liquido amniótico?!” Nada que, com muita calma, não se possa tentar perceber.
Vamos então fazer a chamada prova prática de distinção de fluídos. Ou seja, vá ao WC e tente urinar, de forma a ficar com a bexiga totalmente vazia. De seguida, seque muito bem toda a zona vaginal e vista uma cueca seca. Ande por casa, durante cerca de 30 minutos, fazendo alguns agachamentos, pequenos saltinhos, tossir várias vezes, subir e descer alguns degraus.
Agora é só pegar na mala do bebé, na mala da mãe e, calmamente, ir até ao serviço de urgência obstétrica. Se for confirmada a rotura da bolsa de águas ficará internada, como medida de segurança protocolada em todos os hospitais. Se tudo estiver bem e o líquido amniótico for de cor clara, irá aguardar cerca de 12 horas. Este tempo de espera existe para que se possa perceber se o corpo da grávida fará o seu trabalho da forma mais natural, ou seja, sem recurso a fármacos e com início das contrações. Não acontecendo assim, o mais natural é que lhe seja proposta a indução do parto com recurso a fármacos.
Resumindo, os sinais de trabalho de parto são:
- O único sinal de verdadeiro trabalho de parto são as contrações ritmadas.
- O segredo é saber esperar.
- Esperar em casa apenas se:
- Idade gestacional ≥ 37 semanas
- Bolsa de águas intacta
- Bebé posicionado de cabeça para baixo (apresentação cefálica)
- Se for 1º Filho
- Contrações de 3-3 minutos
- Duração da contração com dor durante 60 segundos
- Aguardar 1 hora em casa com estas condições
- Se for 2º Filho (primeiro nasceu de parto vaginal)
- Contrações de 5-5 minutos
- Duração da contração com dor durante 60 segundos
- Aguardar 1 hora em casa com estas condições
- Se for 3º Filho ou mais (anteriores nasceram de parto vaginal)
- Contrações de 10-10 minutos
- Duração da contração com dor de 60 segundos
- Aguardar 1 hora em casa com estas condições
Vai correr tudo bem!
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